nem eu
me sento na cama
sobre as rendas da insônia
enquanto meus dedos se desfiam
em dores de papel perdido
o botão de uma lágrima se descostura no canto do rosto
e o dedo leva até a língua esse objeto triste
meus olhos são dois punhais cegos
cansados de desferir sonhos
minha gravata é um nó no pescoço das estrelas
minha boca é uma mancha soterrada por arestas que desejo dizer
penso em você
nas minhas mãos desfiadas
e no cansaço que é vencer cada dúvida:
a comida de cada
corvo
que
aqui dentro
nunca
acaba
e a existência menos furiosa?
plástico endurecido numa vitrine desbotada do centro
onde olhos morrediços vão se espelhar
em meu corpo que se quebra a cada sentido
em meu coração vencido
[a
golpes de arco em cello
num céu adiado
Foto: obra de Leonilson
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