terça-feira, 12 de setembro de 2017

Amargurama



o espelho me devolve um olhar sem saída
a paisagem vela sua natureza morta
tua voz é uma distância serenada sob a neve

as águas copiam rostos em anotações precárias
a maré sobe e atira pedras na moldura da rua
uma lágrima desenha solitária no rosto desconhecido

estás sozinho à beira do lago das tuas emoções
a indústria naval dos homens não te oferece um barco sequer
circulam bombas, granadas, estampidos
                                         [mas o teu ramalhete foi retido

um sol ainda de inverno fenece ajoelhado
sobre a seda do silêncio
a dor farfalha

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Noite para um poema



tua voz me enche de tonturas
recaio sobre a tua camisa
leio as sinopses do teu corpo

meus olhos astros desorientados
meus lábios ancoradouro de lírios
e meu pássaro que não me condena

teu olhar me desabotoa
desdobro teus papéis no escuro
            no códice do teu peito me enleio te afago
            no cálice do meu leito te estreito me afogo

lá onde o mar incita as vagas:
te quero com todos os meus navios

terça-feira, 16 de maio de 2017

Enguiço

hoje é dia de pé na pedra
mas água não tropeça
passa por um canteiro de flores
e chora
cai de uma árvore
e chove
escorre pela calçada e morre
sob o sol
hoje é dia de pé na pedra
ouve a onomatopeia da matéria
masca uma folha de coca
e arde
na boca sem língua do peixe
que morre
pelos olhos enviando sinais

hoje é dia de pé na treva
e eu não desço devagar

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Nada


Um ventinho assobia na pele.
O azul é a tela que nos protege.
O passo é um pássaro – levemente sem asas.
O mundo é um suspiro sem nome.
Amargo era um barulho de ontem.
A seda da vida farfalha.
Amar é pra hoje!

sexta-feira, 10 de março de 2017

Sandáraca

é noite na língua das lâmpadas

é balada nos ouvidos do limbo

é cerveja o líquido de acender sorrisos



é segredo essa música dos sentidos?



o corpo se move na escrita impossível

mãos que contam todas as fases do vestido

olhos acidentais que se decifram  atrás do vidro



é caso de ferrugens compatíveis?



o secreto senão da palavra foge com a fumaça

o cigarro entre os dedos semeia gestos – troca de bocas

corações dançam em volta de um relógio sem pulso



a noite se aninha nos lábios em beijos de sábado

Sandáraca

Sandáraca

ainda um silêncio que contraria os sentidos

mas a grafia das mãos já se vai pela nuca

e nas línguas já se misturam tabaco e açúcar



que solo suave a lua do seu rosto 

que emaranhado de versos atrás desse silêncio vazado

que dúvidas líricas sem tempestades

que carícias sem alarde



o que há entre a camisa e o coração?



um poema novo acaricia a pele

o beijo é o remédio do agora

o coração pulsa no escuro

a madrugada é um vestido veloz...
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