o peixe se deita ao lado da faca
ouve seu fio de prata
em sua cabeça
tantas coisas queimam
o corpo inútil
as escamas penteadas
o palácio de Vênus obstruído
a tropopausa de Júpiter saqueada
os ofícios de Netuno paralisados
sobre a mesa
sobre a mesma indiferença
sobre a mesma surdez plasmada
sobre o mesmo aniquilamento de séculos
sobre a mesma pedra sem nome
sobre todas as cascas
sobretudos e casacas
sobre tudo, os coronéis de todos os lados
sobre todos, os generais opostos
sobre todas as leis dispostas
sobre todas as cláusulas pétreas
sobre a manipulação das águas
sobre a multiplicação do nada
sobre a hemeroteca dos recuados da história
envolto
em sacos de sobras
em emergências
alheias
em notícias de futuro
em papéis de
segunda mão
sulcado
ferido
salgado
o peixe morto
boiando no mar de
lixo dessa cidade
fedendo no rosto
da madrugada
a náusea empapando a calçada
a tarefa do oceano ainda inacabada
2 comentários:
Que navalhada na alma esse poema.
Obrigada pelo comentário, querido. Enfim, recuperei a senha do blog kkkkkkkk
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