Janelas
os olhos sofrem de paisagens desérticas e arestas
as mãos padecem das intermitências da seda
a pele já se esfarela na conformidade do nada
(e
então, atrás da persiana, o balão de oxigênio dos sonhos)
entre os soluços da fuligem a franca lâmpada da busca se
acende
um homem de branco descalça os sapatos de um soneto
e abre a caixa de torturas da fome que não se sacia nunca
a língua muda no transcorrer da boca e derruba
a caldeira dos lábios
os braços sustentam feixes de sílabas ainda inabitadas
no armário obscuro das novenas desfilam todas as fantasias
entre flores que se desprendem do riso o teu vestido sideral
se derrama sobre o meu corpo
e verte o seu vermelho sobre a minha boca presa na bolha
iridescente do dia
enquanto meus dedos surpresos encontram a curva desnuda dos
teus ombros
uma fênix prateada emerge do meu bestiário carregando pedras
azuis
no fundo do labirinto da noite as labaredas falam a mesma
língua
com o atestado das paredes e o olhar acidentado da cruz
eu sou outra vez solúvel em saliva e luz
12082013 & 03122013